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quinta-feira, 7 de julho de 2011

Partida e Chegada


Quando observamos, da praia, um veleiro a afastar-se da costa, navegando mar adentro, impelido pela brisa matinal, estamos diante de um espetáculo de beleza rara.
O barco, impulsionado pela
força dos ventos, vai ganhando o mar azul e nos parece cada vez menor.
Não demora muito e só podemos contemplar um pequeno ponto branco na linha remota e indecisa, onde o mar e o
céu se encontram.
Quem observa o ve
leiro sumir na linha do horizonte, certamente exclamará: “já se foi”.
Terá sumido? Evaporado?
Não, certamente. A
penas o perdemos de vista.
O barco continua do mesmo tamanho e com a mesma capacidade que tinha quando estava próx
imo de nós.
Continua tão capaz quanto antes de levar ao porto de
destino as cargas recebidas.
O ve
leiro não evaporou, apenas não o podemos mais ver. Mas ele continua o mesmo.
E talvez, no exato instante em que alguém diz: já se foi”, haverá outras vozes, mais
além, a afirmar: “lá vem o veleiro”.
Assim é a
morte.
Quando o ve
leiro parte, levando a preciosa carga de um amor que nos foi caro, e o vemos sumir na linha que separa o visível do invisível dizemos: “já se foi”.
Terá sumido? Evaporado?
Não, certamente. A
penas o perdemos de vista.
O ser que amamos continua o mesmo. Sua capacidade mental não se perd
eu. Suas conquistas seguem intactas, da mesma forma que quando estava ao nosso lado.
Conserva o mesmo
afeto que nutria por nós. Nada se perde, a não ser o corpo físico de que não mais necessita no outro lado.
E é assim que, no mesmo instante em que dizemos: já se foi”, no mais
além, outro alguém dirá feliz: “já está chegando”.
Ch
egou ao destino levando consigo as aquisições feitas durante a viagem terrena.
A vida jamais se interrompe nem oferece mudanças espetaculares, pois a
natureza não dá saltos.
Cada um leva sua carga de
vícios e virtudes, de afetos e desafetos, até que se resolva por desfazer-se do que julgar desnecessário.
A vida é feita de partidas e chegadas. De idas e vindas.
Assim, o que para uns parece ser a partida, para outros é a chegada.
Um dia part
imos do mundo espiritual na direção do mundo físico; noutro partimos daqui para o espiritual, num constante ir e vir, como viajores da imortalidade que somos todos nós.
Pense nisso!
Victor Hugo, poeta e romancista francês que viv
eu no Século XIX, falou da vida e da morte dizendo:
“A cada vez que morremos ganhamos mais vida. As
almas passam de uma esfera para a outra sem perda da personalidade, tornando-se cada vez mais brilhante.
Eu sou uma
alma. Sei bem que vou entregar à sepultura aquilo que não sou”.
“Quando
eu descer à sepultura, poderei dizer, como tantos: meu dia de trabalho acabou. Mas não posso dizer: minha vida acabou.”
M
eu dia de trabalho se iniciará de novo na manhã seguinte.
O túmulo não é um beco sem saída, é uma passagem. Fecha-se ao crepúsculo e a aurora vem abri-lo novamente.”